Sempre fui boa aluna, daquelas tipo nerd, sabe? Na verdade nem sempre, até o
final da oitava série, do hoje chamado ensino fundamental me mantive assim.
Foi
no ensino médio que a coisa desandou um pouco. As crises da adolescência e
algumas paixonites platônicas me tiraram o foco, mas consegui concluir essa
etapa sem grandes problemas. Lembrando que deixei de ser “nerd” para ser uma
aluna mediana, ok?
Antes que pensem que me tornei uma rebelde sem causa. Na
verdade sempre fui muito tranquila e a timidez nunca me deixou aprontar muito.
Há mais ou menos dez anos quando iniciei minha saga em busca do primeiro emprego
não havia tantos recursos tecnológicos disponíveis como hoje.
Sou da geração que
entregava currículo na recepção das empresas e torcia, torcia e rezava, rezava
muito para ser chamada para uma entrevista. A remuneração era o que menos
importava naquela época. Afinal, eu era jovem, inexperiente, recém-saída da
escola (pública diga-se de passagem) o que poderia exigir com esse “currículo
brilhante”?
Minha mãe sempre priorizou nossa educação (minha e de meus dois
irmãos) e por isso, desde sempre fizemos cursos e mais cursos já pensando em
ingressar no mercado e também cursar uma faculdade. Para felicidade dela,
passado todo esse tempo têm três filhos formados e coleciona quatro diplomas e
meio na parede da sala. Parece que a conta não bate, né?
Mas é isso mesmo, eu
tenho duas graduações, minha irmã tem uma e meu irmão mais novo, pasmem, possui
uma completa e atualmente cursa a segunda universidade, vale ressaltar que nesse
rol temos USP, FATEC e UNICAMP, então posso afirmar que a receita de criação
dela deu resultado e sempre seremos gratos por isso.
Minha mãe é muito especial
e merece um outro artigo completo só para contar a vida dela. Mas deixemos Dona
Irene de lado por enquanto. Voltando a questão do meu primeiro emprego, o que eu
mais queria era APRENDER! Aprender não só as atividades que uma organização
possui, sua estrutura e afins, mas aprender a me relacionar e me inserir nesse
mundo desconhecido, logo, o quanto eu ganharia naquele momento não era relevante
para recusar uma vaga.
Consegui meu primeiro emprego após um longo processo
seletivo enquanto cursava o ensino médio. Trabalhava quatro horas por dia e
ganhava a fortuna de cento e quarenta e sete reais! Era outra época e outros
fatores econômicos e com essa quantia conseguia sentir o gostinho da liberdade
de comprar roupas, sapatos, sair com as amigas e passear no shopping sem
precisar pedir dinheiro para a mamãe, pois mesada era uma palavra que só
pertencia ao mundo da fantasia.
Por dois anos seguidos fui estagiária e como
todo bom estágio fiz um pouco de tudo: atender telefone, anotar recado, arquivar
papelada, mexer em computador. Foi nessa época que fiquei íntima do excel e todo
o pacote Office e foi também quando aprendi a importância de me relacionar com
os outros.
Atuava em um órgão público, mas hoje posso afirmar que os problemas
de convivência são exatamente os mesmos de uma empresa privada e sabe por quê?
Porque pessoas são pessoas, não importa lugar, época ou salário e quanto antes
aprendermos isso mais fácil a vida profissional se torna. Ter paciência, saber a
hora de falar e como falar, trabalhar em equipe, lidar com chefes e superiores,
obedecer ordens eram assuntos que não estavam na minha grade curricular do
colégio e precisei aprender na prática.
Observando, atentando-me a forma como os
demais agiam e mantendo os ouvidos abertos para comentários, críticas e broncas.
Foi assim, no dia a dia que construí aos poucos minha postura profissional e
sabia exatamente o que fazer se quisesse continuar com o trabalho. Terminei o
ensino médio e automaticamente meu estágio teve fim, afinal, como disse era um
órgão público e não existia possibilidade de uma efetivação. Com quase dezoito
anos era hora de decidir o que fazer da vida, certo? Errado!
Não tinha a menor
ideia de qual carreira seguir. Após algumas pesquisas me identifiquei com o
Turismo e essa foi minha primeira graduação. Após seis meses de curso lá estava
eu em mais um estágio, conciliando o departamento de reservas de um pequeno
hotel com a rotina noturna de estudos na faculdade. Concluída a graduação fui
efetivada na maior rede hoteleira do país, uma multinacional. A experiência foi
ótima, além de uma bagagem profissional recheada de aprendizado fiz grandes
amigos. Com o passar do tempo senti a necessidade de buscar novos horizontes,
mudar de área, experimentar novos ares.
Nesse período decidi estudar novamente,
foi o início da minha segunda faculdade. Mais ciente das minhas escolhas e
pronta para recomeçar: enveredei pela área de Negócios! Com outro olhar voltei à
vida de estagiária. Foi durante esse processo que conheci os Recursos Humanos e
suas várias segmentações. Fui responsável pela implantação da área de
Treinamento e Desenvolvimento, e Recrutamento e Seleção de uma empresa com mais
de quinze anos de existência.
Currículos, entrevistas e programas de capacitação
fizeram parte da minha rotina diária por quase quatro anos, após esse período me
aventurei pelo empreendedorismo e inaugurei em parceria com meu antigo chefe a
consultoria Habittus Gente & Gestão, que tem como foco o desenvolvimento de
pessoas.
A partir das minhas experiências como estudante, estagiária e
profissional posso garantir que o que vejo hoje é um cenário invertido: jovens
sem experiência ou vivência exigem cada vez mais das empresas: salários altos,
jornadas flexíveis, rápido crescimento profissional, oferecendo em troca: pouca
disposição para aprender, impaciência, tudo deve estar pronto na velocidade de
um click, conhecimento técnico muitas vezes insuficiente. Boa parte termina a
universidade sem saber o mínimo da norma padrão do português, matemática básica
ou noções da própria área de formação. E não estou exagerando! Trabalho desde
2010 com recrutamento e seleção e vejo essa triste realidade aumentar a cada
ano.
A chamada Geração Y ou Geração da Internet, que segundo alguns autores é
composta por jovens nascidos a partir dos anos 80 conhecidos por serem
extremamente ligados em tecnologia, sonham em conciliar lazer e trabalho e
buscam de forma constante novas experiências. São também ansiosos e inquietos, o
que muitas vezes prejudica a carreira por almejarem ascensões meteóricas e
contínuas. Por não saberem o que querem acabam fazendo de tudo.
E as empresas se
desdobram para descobrir uma forma de atrair e reter esses profissionais,
entretanto parece que nada 100% efetivo foi descoberto até agora. Vivemos na era
da internet, onde os estímulos são constantes e imediatos e por outro lado, se
perde a capacidade de focar, concentrar e até mesmo reservar um tempo para
pensar sobre a vida e suas nuances.
O ingresso no mercado de trabalho está cada
vez mais competitivo e os melhores preparados tecnicamente podem se beneficiar e
conquistar “melhores oportunidades”, porém, existem habilidades que não são
ensinadas em sala de aula e são justamente essas as mais valorizadas no momento:
trabalho em equipe, assertividade, empreendedorismo interno, inovação, empatia,
capacidade de negociação, falar em público, mediação de conflitos, visão
holística, vender ideias, liderança e por aí vai.
Um diploma não é diferencial
faz tempo. Um bom profissional além do nome impresso em um certificado precisa
deautoconhecimento, e esse dá trabalho. Exige dedicação e uma certa dose de
consciência. Vou parar por aqui para o texto não ficar muito longo e em outro
post prometo explorar com detalhes a importância do autoconhecimento para a vida
profissional.
APRESENTAÇÃO DA AUTORA: LUISA HELENA VENANCIO DOS
REIS
Diretora Comercial & Consultora de Treinamento
Ganhadora do Prêmio “Mérito Acadêmico” em 2013, concedido pelo CRA
(Conselho Regional de Administração do Estado de São Paulo), por ter sido a
melhor aluna do curso de Gestão Comercial da Fatec Ipiranga. Participou do
Programa “Fui Estagiário” da TV Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios) como case
de sucesso pelodesenvolvimento da carreira acadêmica e profissional. Atuou como
Gerente de Recursos Humanos na Tecmicro Soluções Representante Autorizado NEXTEL
no período de 2010 a 2013, onde foi responsável pela implantação e controle da
área de Gestão de Pessoas com foco em Treinamento & Desenvolvimento e
Recrutamento & Seleção. Também é graduada em Turismo desde 2006 com
experiência na área de atendimento ao cliente e vendas no segmento de hotelaria
de luxo, tendo atuado no Grupo Accor Hospitality por mais de 03 anos.
E-MAIL: luisa.reis@habittus.com.br
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